Não sou de humanas, nem de exatas, nem de biológicas.
Definições em tempos de transição de carreira
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Eu sou de 88 e lá na minha época vestibulanda caí no conto do teste vocacional pra me ajudar a decidir se eu iria ser uma advogada ou uma administradora. Como uma aluna péssima em física e química eu tinha noção que jamais faria qualquer graduação de exatas e na época, biológicas também me parecia um mundo completamente distante.
Corta para 2024, após anos mentorando carreiras femininas e conhecendo centenas de mulheres que fizeram as transições mais inimagináveis do meu mundinho pós adolescência.
Além da constatação óbvia de que poucos são os que seguem a mesma carreira com o passar dos anos, minhas clientes se misturam entre uma categoria que não ensinam na escola: a turma dos criativos.
Os criativos são os renegados - as ovelhas negras - que pegaram toda a grana investida neles por pais que sonhavam ter filhos dentistas, médicos, engenheiros, lhes entregaram o diploma e foram fotografar, maquiar, fazer looks, cortar cabelo, desenhar, dirigir cenas, filmar pessoas… e ainda que eu conheça criativos mais bem pagos do que muito médico, fato é que sim, há muito preconceito nesta categoria.
A gente deveria aprender que além da aptidão por pessoas existe a aptidão para a arte e que você não consegue fugir dela, mesmo que queira.
Como diz minha mãe: eu sempre soube que você seria artista. Disse ela quando me viu gravar a Websérie Doze - que lança ainda neste semestre - e me relembrou minha menina atuante e desenhista de looks. E ainda que a matemática financeira seja um amor eterno na minha vida, bem como métodos quantitativos e estatística, uma vez artista, sempre artista.
Agora fora a parte poética e o papinho gratiluz de que todo mundo é artista, vamos às implicações deste perfil.
Primeiro e mais importante, esta galera sofre, tá? Sofre preconceito em casa, demoram a se entender, quando são bons e a sorte os encontra ganham dinheiro rápido demais e podem se perder em si mesmos, são melancólicos por natureza, insatisfeitos eternos com tudo, críticos principalmente consigo mesmos - se chicoteiam tanto que beira o inacreditável, incansáveis, têm dificuldades com a vida empreendedora e sua parte ruim e, principalmente, quando não “saem do armário” para o fato de serem artistas vivem uma vida em sofrimento.
Sou suspeita, amo um artista. Adoro a vibe, o jeito de verem a vida, amo conviver. No entanto, profissionalmente sei como sofrem e como são os mais difíceis de ajudar porque vivem em constante autocrítica e negação.
Penso que a escola deveria conseguir direcionar este perfil de aluno de uma forma mais efetiva, ensinando eles a empreender. Quase todo artista ou profissional criativo será autônomo ou empreendedor. São pessoas fora da caixa demais pra um CLT, disruptivos demais pra um serviço público, insatisfeitos demais pra fazer uma coisa só. Eles vão sair do armário ou morrerão amargurados, e caso o faça vão precisar lidar com toda a neblina mental de tantas emoções juntas.
O mais legal é que, dos meus clientes, muitos dos artistas têm profissões tradicionais, trabalham em indústrias, mas usam este lado B para canalizar parte de quem são. E ainda que a gente venha falando muito sobre a insalubridade de monetizar todo e qualquer hobbies - em especial os artísticos - a gente precisa sair do lugar comum e entender que para muitas pessoas, ser reconhecidos dentro de uma carreira criativa é sim um sonho, e neste caso o reconhecimento está para além da grana em si. Tenho muitos problemas com discursos rasos e frases feitas porque acho que elas excluem muitas motivações genuínas e pouco faladas - seja por constrangimento ou autoproteção - mas eu que estou do lado de cá sei como tem tanta gente sonhando em ter seu nominho em algum pedacinho da história de algo que hoje parece um hobbie. E para mim isso é legítimo.
Como eu sempre falo e reitero, você pode mentir para todo mundo, menos para você.
E, para você que convive com crianças artistas vai o desafio, como incentivar isso sem esquecer do que este futuro adulto precisará? Eu não faço ideia como fazer, mas, de novo, me parece inteligente sairmos do lúdico pro prático nesta formação com habilidades que lá na frente este criativo vai penar pra ter.
E você? É de humanas, biológicas, exatas ou criativas?
Conta pra mim no botão abaixo!
Dia destes caí num post aqui no Substack - não lembro onde, sorry! - que falava algo que me marcou:
Estamos exaustos ou só deixamos de fazer o que gostamos?
Veio como um soco no estômago, não vou negar, porque vinha me sentindo bem exausta e, de fato, de uns tempos pra cá minha vida ficou bem chatinha, sem andar na minha bike, sem praia e tudo que me recarrega.
Lembrei então de uma grande amiga que está em tratamento para o câncer há mais de uma década e que sua psicóloga trouxe para ela de forma latente a ideia de viver APESAR DE.
Claro que dada as devidas proporções do que cabe a cada realidade que estiver lendo acho lindo pensar sobre viver e buscar fazer o que se gosta APESAR DE, porque na prática sejamos honestas, ser adulta é puxaaaaado. Então quando você muda o pensamento a vida vai tendo mais sentido
Vou fazer estas fotos, apesar de não me sentir no meu melhor momento
Vou neste show apesar de não poder ir todos os dias
Vou nesta viagem apesar de não gostar muito do hotel
Vou ler este livro apesar de poder me dedicar só 5min por dia
Vou me dar a chance de sair com esta pessoa apesar de num primeiro momento não me sentir tão conectada
Vou viver apesar de tudo que possa estar acontecendo
Por vezes a sua cabeça só precisa de um tempo off, tipo os equipamentos eletrônicos, sabe? E ainda que pareça não ser bom suficiente no início, é melhor do que nada.
Não sei, mas me parece que os grandes movimentos do mundo começaram assim, numa tentativa, apesar de.
🙋🏻♀️🙋🏻♀️🙋🏻♀️🙋🏻♀️🙋🏻♀️🙋🏻♀️🙋🏻♀️🙋🏻♀️🙋🏻♀️🙋🏻♀️🙋🏻♀️ uma artista reconhece a alma da outra. THANK YOU GOD por nos conectar 💛