A Cultura do Mérito do esforço no Brasil está te impedindo de "chegar lá"
O mercado dos influenciadores acabou? Tendência no Insta?
Se você escuta frases como “só não consegue quem não quer", “só depende de você", “aqui privilegiamos a meritocracia”, “basta acreditar” e você ainda acredita, esta newsletter é para você.
Atualmente, estou lecionando para uma turma de Mestrado em uma universidade americana na Ásia. Composta por cerca de 40 alunos, a classe conta com pelo menos 20 deles que possuem um domínio de inglês classificado entre intermediário e básico. Não por falta de esforço ou inteligência, mas devido a terem iniciado seus estudos no idioma já na fase adulta, com limitado contato prévio em ambientes de língua inglesa. Surpreendentemente, observo indivíduos do meu convívio com proficiência linguística mais do que suficiente que hesitam em articular três frases em uma entrevista de emprego, por exemplo, enquanto meus alunos persistem na busca por um diploma internacional.
O cenário atual, permeado pela cultura exacerbada de coaches e líderes espirituais - com todo respeito aos sérios - que vemos no Brasil, tem contribuído para uma lavagem cerebral em massa. Discursos motivacionais simplistas e de mentalidade positiva, longe de refletirem a realidade, criaram uma ilusória noção de mérito inatingível para a maioria dos comuns mortais.
Poucas coisas me parecem mais distantes da realidade do que a crença simplista de que basta desejar para realizar. Apesar de ser defensora do livre mercado e da filosofia de transformar obstáculos em oportunidades – considerando minha própria trajetória de vida – é ingênuo e elitista ignorar que o esforço por si só não é garantia de sucesso.
Muitos, cujo domínio do inglês se equipara ao de alguns dos meus alunos, jamais cogitaram ingressar em um programa de mestrado, enquanto dedicam anos, talvez décadas, buscando um nível imaginário de fluência que raramente se concretizará (não por falta de esforço, mas porque você já tentou aprender do zero um novo idioma na vida adulta falando o dia inteiro em português?).
Tomando o inglês como exemplo, residir nos Estados Unidos ou no Reino Unido, possuir recursos financeiros e se esforçar intensamente não garantirão um nível de proficiência, sotaque e fluência equivalente ao de alguém que iniciou o aprendizado na infância ou pode fazer intercâmbio ainda na adolescência. E daí? O que isso muda o fato de que o que importa é a comunicação e não a perfeição?
A falsa ideia do mérito exclusivo do esforço desconsidera aspectos cruciais como gênero, raça, classe social e conexões familiares. Não é quem trabalha mais que necessariamente alcança mais, não é o mais esforçado que obtém mais "sucesso" (seja lá o que isso signifique para cada um), e não é o mais inteligente que conquista as melhores oportunidades.
É e sempre foi quem está nos lugares certos com os contatos certos. E quem porventura não nasceu nestes espaços, mas conseguiram furar a bolha.
É importante destacar que nenhuma pessoa desprovida de inteligência se sustenta unicamente por meio de contatos e privilégios. Contudo, a comparação direta entre duas pessoas, começando a jornada de vida a partir de pontos distintos, é uma abordagem simplista.
Em minha experiência, ao conviver com amigos e profissionais de diversas nacionalidades, percebo que essa visão mais realista do mundo é mais evidente para eles. Mesmo os adeptos do "Sonho Americano" reconhecem o preço a ser pago para ocupar determinados espaços: a construção de uma rede de contatos.
Aqui, sinto que este discurso balela de palco - que vende, e muito - causou uma cegueira coletiva quanto ao que realmente é “chegar lá” - a começar pelo peso individual que cada um dá para o seu conceito de sucesso.
Para a maioria da população, especialmente para aqueles que não fazem parte da elite, o caminho é o ESTUDO! A caneta é mais leve que a enxada, e, a menos que você seja excepcionalmente talentoso, precisará dessa ferramenta para progredir. O segundo caminho é a publicidade, e abordaremos esse aspecto em breve.
Enquanto os influenciadores proclamam aos quatro ventos que o estudo não faz diferença, na prática, exceto por raras exceções, é o que tira os menos privilegiados da pobreza. A crença superficial de que é possível crescer sem estudar tem sido uma ilusão generalizada em nossa geração, possivelmente explicando os movimentos sociais que testemunhamos diariamente. Algumas dúzias de livros adicionais poderiam ter poupado o preço que estamos pagando hoje.
Menos de 3% dos lares no Brasil têm uma renda superior a 21 mil reais. Isso significa que menos de 3% das famílias no país têm condições de oferecer aos filhos acesso à melhor educação disponível sem se endividarem. Mesmo na chamada classe B, com renda entre 7 e 21 mil reais, a qualidade de vida é possível, mas com algumas restrições devido aos preços elevados.
Falar sobre mudança de vida sem abordar a montanha que os menos privilegiados precisam escalar, enquanto se baseia em discursos de coach, é iludir uma geração que cresce acreditando que "basta querer" sem realizar o que realmente precisa ser feito.
Atualmente, as pessoas têm três principais maneiras lícitas de mudar de vida: através do trabalho, do casamento ou por meio de prêmios/loterias/heranças inesperadas. Vamos excluir a terceira opção - rara - e focar nas duas primeiras.
Sim, ainda que não seja politicamente correto trazermos o casamento como uma alavancagem social ele é, para muitas pessoas, um negócio - dos bons. Muitos são os que historicamente se beneficiaram do enlace matrimonial como uma aposta, desde que o mundo é mundo - se você quer se aprofundar no tema, sugiro o livro Capital Erótico. A alavancagem social através do casamento se dá, na maioria dos casos, para mulheres e homens, muito bonitos e jovens; que usam o seu “capital erótico” para casarem com alguém que tenha posses e acessos fazendo com que ele mude o curso social da família. Embora tenha minhas dúvidas sobre o tema, é inegável que o casamento é uma das formas mais comuns de mudança de vida para quem pode realizá-lo.
E então temos a forma mais difícil porém a via da maioria das pessoas que é através do trabalho.
O Brasil oferece diversas oportunidades, especialmente no interior do país. Somos uma potência no setor agropecuário, movimentando bilhões na indústria, agricultura e serviços. O desafio, no entanto, é "chegar lá" sem a chave certa. Custos elevados, impostos, burocracia e a ineficiência do Estado inflado são obstáculos que fazem muitos empreendedores desistirem. Basta observar os grandes casos de sucesso e seus históricos.
Aqueles que rompem a bolha não o fazem apenas com trabalho árduo, mas também com estratégia. Por isso, somos líderes globais em influenciadores digitais, com centenas de personalidades com milhões de seguidores, muitas delas desconhecidas, pois, na favela, há celular, internet e criatividade, não análises SWOT, orçamento e avaliação de negócios.
A crítica ao mercado de trabalho proveniente da elite brasileira, extremamente privilegiada, é problemática. Para aquele cantor de funk que estoura no TikTok, aquele sucesso, talvez seja o único e mais importante da sua família inteira.
Recentemente, assisti a uma entrevista com Morgan Housel, autor do livro "Psicologia Financeira", onde ele aborda o fenômeno dos jogadores de basquete americanos que ganham milhões e acabam na pobreza. Um deles explicou que, ao assinar um contrato milionário, teve que comprar casa para a família inteira, pagar estudos, tratamento médico, tornando-se a principal fonte de sustento. Isso ilustra que não é apenas o trabalho árduo que garante o sucesso.
Através desses exemplos e da minha experiência, reitero que não, não é apenas trabalhar muito. No meu cotidiano, defendo o empreendedorismo feminino e encorajo todas as mulheres a construírem suas marcas pessoais independentemente de uma empresa, a colocarem-se na internet. Acreditar que basta fazer algo impede que tomemos passos estratégicos para uma mudança verdadeiramente eficaz.
Em resumo, a vida não se resume a esforço e trabalho árduo. A compreensão das oportunidades reais, a estratégia e a construção de conexões são tão essenciais quanto, senão mais.
Pense nisso!
O mercado dos influenciadores acabou?
Há menos de uma semana a Veja publicou uma matéria que fala sobre a crise de credibilidade no mercado dos influenciadores (para ler a matéria original clique aqui) e como a internet virou do avesso discutindo o tema decidi trazê-lo para cá com a minha perspectiva.
Se você está me lendo agora, eu sou sócia de uma agência de branding e marketing que já conduziu algumas boas campanhas com influenciadores e trabalha a imagem de alguns nomes importantes do mercado.
A discussão toda se dá pelo “pé atrás” que os consumidores atuais estão com os influenciadores, principalmente após os escândalos das casas de apostas no Brasil e o caso Chiara Ferragni - acusada de promover uma campanha de arrecadação de fundos para uma intuição de caridade e embolsar a quantia arrecadada.
Vamos deixar as emoções de lado e focar no que é concreto. Estamos falando de um mercado de 24 bilhões de dólares (mercado da influência) e de um fato: no Brasil, 40% das pessoas acompanham a vida de algum influenciador. Não é mais uma profissão marginalizada, pelo contrário, estamos falando de um mercado que é 60% do valor do mercado do futebol mundial. É um jogo de gente grande.
Chiara, uma influenciadora de 36 anos acumula uma fortuna de 530 milhões de reais, 30% a mais do que a principal modelo que o mundo já teve, Gisele, em metade do tempo de trabalho.
Se o mercado não desse retorno para as marcas, todo este dinheiro seria movimentado?
Enquanto um comercial de poucos segundos na TV pode custar 300/400 mil reais e passar para todo tipo de público, este mesmo valor pode ser amplamente utilizado com pessoas que falam diretamente com o público alvo da marca.
Minha opinião pessoal é que o mercado está longe de acabar. O que deve acontecer nos próximos anos é que o público está com o olhar melhor treinado e mais atento a incoerências e profissionais que adoram contar uma lorota. Entendo que, cada vez mais, teremos menos influenciadores de milhões de seguidores e mais influenciadores de nicho definido e comunidade.
Meu sentimento é que as pessoas parecem se ressentir dos influenciadores. É um pouco do que escutamos quando um jogador de futebol fica milionário com pouca idade, quase como se a menina que posta vídeos do seu café da manhã estivesse cometendo uma falha grave. Não consigo entender. A pobreza do país não é culpa da influenciadora milionária. Ademais, convido qualquer pessoa a passar 14h produzindo conteúdo e me contar depois se é “fácil” como parece ser.
O mundo pede o desinstagramável - seria isso uma tendência?
A geração Z começou o boom dos perfis de instagram Daily que é um perfil fechado só para amigos próximos com o intuito de: postar o dia a dia de forma leve e não produzida.
Uma geração que não tem tanto apreço pelo insta, criou uma nova tendência em que não há carão, look pensado, fotos editadas pelo Lightroom e sim o que fez os perfis existirem lá atrás: vida real, trocas mais genuínas.
Numa rede que virou cartão de visitas e espaço de comercialização + um comportamento tenebroso de cancelamento, a galerinha under 25 tá no clubinho delas, num mundinho secreto em que não há a ansiedade de crescer, de engajamento, de parecer ser nada.
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